LOOSEN UP MY BUTTONS

“Gostava de perceber onde vais buscar energia.”
Um sorriso, um café. Quase, quase, o fumo de um cigarro. Mas não, quero as mãos onde as tenho, livres, ocupadas, enroladas uma na outra sem saber onde poisar.
“Gostava de perceber” repetes.
Um sorriso, um desafio. Quase uma provocação. Uma mãe, um filho adolescente, um advogado ilustre, passam todos ali ao lado com a pressa de quem foge para casa ou de casa ou de histórias que se repetem sem parar.
Um sorriso, um nó de gravata que se desenlaça entre os dedos, o telefone que toca... tudo ao mesmo tempo, o teu casaco, os meus sapatos, tudo urgente e desgastante, a tua lingua, a minha pele...
Um sorriso, o teu sabor...
“Vais dizer-me ou é segredo?”
“Vou dizer-te.”

IL PRIMO BACIO

Lembro-me, sabes? Do cheiro a manteiga que se prendia aos dedos, da flôr de laranjeira que me punhas no cabelo, dos sabores a chocolate, a amêndoa, a cerejas... lembro-me dos teus calções azuis manchados de tinta, do teu chapéu escurecido pelo sal... lembro-me de quase tudo.
Guardei memórias estranhas de tardes de Verão de calor insuportável em que me ensinavas a mergulhar com a paciência de quem se apaixona cedo demais... lembro-me da tua bicicleta encarnada cheia de cicatrizes como a que tinhas no queixo e do primeiro beijo de linguas escondidas, curto e desconfiado, desajeitado e cheio de borboletas... lembro-me que hoje, ao ver-te passar, já não sinto borboletas, mas cheira-me a mar, a manteiga e a chocolate...

THE BEST IS YET TO COME...

Pudesse eu nascer de novo e mudar tudo... ou quase nada. Mudar de nome e de escrita, mudar de mundo e de cidade... pudesse eu mudar de cores, de pensamentos, de convicções... pudesse o mundo mudar para mim ou mostrar-se novo... pudesse eu ser maior ou mais alta, sem incidentes na palma da mão, ser pequenina, caber num beijo... pudesse eu tudo e saberia a quase nada...
Pudesse a minha história não ser pintada de teimosia e inconformismo, de impaciência e insatisfação, mas ao poder, bem sei, perdia a força ...