Disse o meu nome em surdina. Repetiu-o, certo de que adormecera, e sem acender a luz, levantou-se, parou junto da minha pasta e abriu-a com maos de profissional, abafando por completo o clic que lhe conhecia.
O meu corpo estremeceu. Nao de frio, jamais de medo, mas de magoa e desilusao. Percebia agora por que motivo o meu pai me fizera prometer que guardaria tudo o que achasse relevante no cofre do hotel. Se nao estivesse atenta aos seus movimentos, jamais teria percebido que ele vasculhava os meus documentos. Fazia-o num silencio absoluto.
Ele voltou a fechar a pasta e no mesmo silencio em que se levantara, voltou a deitar-se.
- Perdoa-me! – murmurou, acariciando-me uma madeixa de cabelo escuro. – Perdoa-me!
Permaneci imovel. Um no’ prendeu-se na garganta e quase me fez soluçar. Contive o impulso.
- Algum dia casaras comigo? - apertou-me de encontro ao peito e mais uma vez obriguei-me a ficar quieta. Queria dizer-lhe tantas coisas. Calei tudo e esperei.
Despertou devagar, com uma sensaçao de peso na alma. Ela nao estava ali, coberta pelo lençol imaculado como a deixara ao adormecer. Soube imediatamente.
No chao, onde poucas horas antes estivera a pasta que ele vasculhara, ficara um papel quadrado, com o logotipo de hotel. A letra era pequena, escrita a’ pressa por um punho delicado.
“Evidentemente, um dia casarei contigo!”
3 commenti:
evidentemente eu sabia a resposta! :-)
O teu texto é um conto, para todos os efeitos.
Bem narrado, como é habitual em ti, com um final com alguma surpresa e bem delineado.
Gostei de o ler, como é óbvio.
Espero que as tuas narrativas jurídicas tenham igual qualidade, mas não podes inventar muito... (hehehe...). Um bom estágio para ti.
Beijo.
[agora vou ter de ler a I parte, fiquei fascinada com esta]
Parabéns [e vai duas :)]
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