Voltei a consultar o relogio. Era a milesia vez que o fazia nos ultimos minutos, estava irremediavelmente atrasada. O salto prendeu-se na calçada e o vento atirou-me uma madeixa de cabelo escuro contra o rosto palido.
- Merda! – subi os tres degras do edificio em passo de corrida e entrei no elevador segundos antes das portas se fecharem. La dentro um homem de fato creme e gravata mal composta, observou-me dos pes a’ cabeça. Ajeitei o casaco e puxei instintivamente a saia um pouco para baixo. Dei uma olhadela rapida ao salto dos meus Manolo novinhos e so me apeteceu chorar ao ver a camurça esgaçada.
O elevador parou e as portas abriram-se, deixando-me de frente para o enorme atrio que eu conhecia de cor. Respirei fundo e avancei, deixando os passos fazerem eco no marmore, esperando que isso me fornecesse a ultima dose de confiança de que precisava.
Bati a’ porta e esperei. Ouvi-lhe a voz rouca pedindo-me que entrasse. Estava de pe junto ‘a janela, segurava o telemovel na mao direita e o olhar que me lançou foi gelido.
- Se estiver ocupado, posso esperar! – saiu-me antes de poder raciocinar.
- Ha mais de meia hora que mandei cancelar todos os meus compromissos para a receber! – respondeu.
- Peço desculpa, Professor, eu...
- Nao quero saber!
Tive vontade de desaparecer. Nem podia acreditar que aquilo me estava a acontecer. A mim, que nunca me atrasava para compromissos verdadeiramente importantes, a mim que inacreditavelmente hoje tivera o unico motivo razoavel para me fazer chegar com trinta minutos de atraso.
- Sente-se! – exclamou. Confesso nao ter percebido exactamente se era um pedido, uma sugestao ou uma ordem. Fiquei de pe, nao gostei do tom.
Ele levantou o olhar, apontou ao fundo dos meus olhos para confirmar se havia naquela atitude um desafio.
- Qual e’ o seu problema??! – abandonou o posto a’ janela e fez a pergunta a poucos metros de mim. Eram demasiados os pormenores que me prendiam a atençao. O rosto seco, os olhos profundos, os maxilares contraidos. O cabelo grisalho denunciava a iminente entrada nos cinquenta, mas a postura era a de um miudo a quem tiraram a bola.
- Picasso, Dali e Miro’! – respondi no mesmo tom. – E’ esse o meu problema!
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6 commenti:
E isso lá são horas de estar a escrever posts?
Bem, o principal é que ele nem deve ter visto os teus Manolo em mau estado, pois não?
KISS
Excelente e muito agradável! Mas... não será excessivo?!!!
ainda as voltas c pintores espanhois?
n tinhas passado essa fase?
ando as voltas e estou pronta para andar! :) estes senhores estao a dar me uma trabalheira desgraçada e ainda agora comecei!
o que vale sao estas ajudas preciosas de entendidos... hmmpfff...
lembraste me esta canção dos clã mas nao me perguntes porque!
Carrossel Dos Esquisitos
sou mais um no carrossel
dos esquisitos
gente feia a girar
não é bonito?
juntos vamos celebrar
esta nossa palidez
que não dá p’ra disfarçar
como abutres no céu
são quase lindos
dois feiosos a rodar
gritando e rindo
são aberrações no ar
oh meu querido
fecha os olhos p’ra me beijar
que o mundo vai-se acabar
menos p’ra ti e p’ra mim
enquanto eu não te olhar
de tão perto assim
p’ra não me assustar
se uma bomba nuclear
tem a sua beleza
gente feia tem também
nem mesmo mata ninguém
que não mereça sim
morrer por ser ruim
por fazer sofrer
quem me quer assim
sobramos só nós dois
ninguém p’ra comparar
o nosso bolo de arroz
com champanhe e caviar
bjos e tou a espera do cafezito!
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