giovedì 19 ottobre 2006

COME UNA DANZA VI


- Não avanço mais! – a pintura está tão degradada que a continuação do trabalho pode comprometê-la definitivamente. Ele espreitou-me por cima do ombro.
- Como é que a deixaram chegar a este ponto? – passou a ponta do dedo enluvado a látex pela superficie de gesso e respirou fundo. – Bom olho! – disse entregando-me as luvas. – Se avançasse mais uma camada não sobrava nada para contar história!
- Isso foi um elogio??? – saiu-me antes de poder travar a lingua.
Olhou para mim com ar sério. – Foi a constatação de um facto, mulher! Você estudou, trabalhar bem não é mais que a sua obrigação! – Pôs-se de pé.
- A sua simpatia é extasiante!
- Por hoje chega! Faça um relatório e entregue-mo amanhã! – desceu com agilidade e lá em baixo chamou o meu nome. Não sei porque raio me soa diferente na boca dele.
- Deixe isso, estava a falar a sério! – tirou o boné e passou o braço pela testa. – Aproveite e vá jantar com o pessoal... divirta-se! – Lavou as mãos e pegou na mochila.
- Não vem? – nem sei porque perguntei, ele já tinha recusado o convite.
- Hoje não... nem sempre gosto de multidões!
Já tinha reparado, apeteceu-me dizer.
- Até amanhã! – atirou. E desapareceu, no mesmo silêncio em que costuma aparecer.

2 commenti:

LurdesMartins ha detto...

Estou a gostar desta danza...
Beijinhos

asdrubal tudo bem ha detto...

Love is in the air lalalalala