venerdì 4 novembre 2005

LA STORIA DI UN BACIO II

Aqui vai mais um pouco do meu livro... sem pretensao a publicaçoes, claro! :)

I

-Mãe, onde está a minha blusa azul clara que comprámos na quarta-feira? – Leonor desceu as escadas aos tropeções e de caminho teve tempo para provocar o irmão com uma palmada na cabeça. – Não a encontro!! Mãeee...
- Que foi, Leonor? – Matilde estava na cozinha a terminar de preparar o pequeno-almoço! – Importas-te de não gritar pela casa fora?
- Mãe, não encontro a minha blusa em lado nenhum! – disse um tom desesperado.
- Nem vais encontrar... está na máquina de lavar! As coisas que se compram primeiro lavam-se, depois é que se vestem! – respondeu-lhe a mãe sem tirar os olhos das torradas que barrava. – Há quantos anos te ando a ensinar isso?
- Não acredito! – exclamou a adolescente.
Matilde olhou para a filha e sorriu. Sabia muito bem o drama que aquilo podia ser para uma jovem de catorze anos, cheia de dúvidas, inseguranças, que passara a noite a pensar na blusa nova que tinha para estrear e de repente via os seus planos arruinados por uma mãe que punha tudo para lavar indiscriminadamente.
- Bolas, mãe, podias ter perguntado primeiro! – abandonou a cozinha, soltando lume pelos olhos.
- Eeeii!! – Lourenço cruzou-se com a filha mais velha nas escadas e pensou que acabara de passar por um furacão. – Esta fase nunca mais passa? – perguntou em jeito de brincadeira á mulher que se encostara á bancada de pedra.
- Está apenas a começar...! – disse sorrindo. – E depois desta tens mais um, terás bastante tempo para te habituares!
Ele deu a volta á mesa, aproximou-se da mulher e colocou uma mão de cada lado da bancada, deixando-a presa entre os seus braços. Ficou a observá-la em silêncio e viu um sorriso abrir-se-lhe no rosto em jeito de desafio. Lourenço olhou por cima do ombro certificando-se que nenhuma das crianças estava por perto.
- Estás muito sexy hoje... – atirou, ao mesmo tempo que lhe beijava o pescoço.
- A sério?
- Hmm-hmm! Tenho saudades tuas!
- Eu também tenho saudades tuas! – pousou a mão em cima da do marido. – Tenho saudades dos tempos em que podia fazer amor contigo quando me apetecia...
- Ainda podes... – beijou-a com urgência e puxou-a mais para si.
- Tenho é de me certificar que estás em casa e não a trabalhar como de costume! – pousou-lhe um leve beijo nos lábios e foi retirar do micro-ondas o leite para os cereais.
- Isso é uma queixa, Matilde?
- É, Lourenço! É uma queixa! – deixou o leite sobre a mesa e olhou o marido com intensidade. – Porquê, achas que não tenho motivos para me queixar?
Ele respirou fundo, pegou numa maçã e saiu de casa batendo a porta. Matilde ficou sozinha na cozinha, com uma mão sobre os lábios e com a habitual sensação de vazio no peito. Amava o marido desde o primeiro dia que o vira. Sentira naquele momento que nunca mais nada seria igual na sua vida e que iria com ele até ao fim do mundo, se lho pedisse. Haviam passado dezasseis anos e quando parava a olhar para ele conseguia lembrar-se de todos os motivos pelos quais se apaixonara. O altruismo, o bom senso, a inteligência... os olhos negros, as mãos fortes, a pele morena... depois de quinze anos de casamento ainda se sentia ansiosa pelo momento em que ele chegava e a abraçava, ainda pensava nele pelo menos cinquenta vezes por dia, ainda guardava na carteira os primeiros bilhetes de cinema e as primeiras fotografias dos dois. Continuava a desejá-lo como uma adolescente de dezassete anos e a sentir as forças abandonarem-na quando ele se aproximava para a despir.
- Mãe? – Afonso entrou na cozinha a arrastar o cão pela coleira! – Acho que o Goya tem fome!
Matilde sorriu e baixou-se para ficar á altura do filho e do cão. Agarrou o menino pela cintura e deu-lhe um beijo!
- Já lhe ponho comida, primeiro tens de tomar o pequeno almoço! – pegou nele e sentou-o á mesa. Fez uma festa no cão que se sentou como habitualmente ao lado do dono.
Pousou a taça dos cereais em frente ao filho e enquanto ele comia, aproveitou para o observar discretamente.
Aos cinco anos, Afonso era uma pequena cópia do pai. Pele escura, cabelo negro e olhos grandes. Os pormenores mais interessantes eram os das mãos e das expressões faciais. Perfeito. Era capaz de recordar com precisao o momento exacto em que sentira pela primeira uma onda de felicidade encher-lhe o coraçao de calor ao olhar para o filho. Tal como acontecera com Leonor alguns anos antes, soubera imediatamente que daria a vida por ele sem hesitar se precisasse e que o amaria mais que qualquer pessoa no mundo.
Afonso levantou os olhos da tigela ao sentir-se observado. Colocou a cabeça de lado e Matilde sorriu-lhe.
- Es lindo! – disse passando-lhe a mao pelo rosto.
- Es linda! – devolveu o filho com um sorriso aberto.

1 commento:

Anonimo ha detto...

O bichinho acordou... :) Sem pretensão mas com a mesma paixão!