Sabia que nao me ouvirias entrar. Sabia que podia atravessar o corredor, subir a escada e observar-te em silencio por alguns minutos. Deixei-me ficar na ombreira do teu sotao amplo, cheio de telas em branco e de quadros pintados a tentar adivinhar o que estarias a imaginar. Ajoelhado sob a tela, descalço e sem camisola, so as jeans velhas e desgraçadamente encardidas da tinta. O teu cabelo curto colorido de azul e vermelho faz-te parecer uma criança rodeada de canetas de filtro e os braços manchados ate aos ombros lembram-me por que motivo me apaixonei por ti.
Sabia que acabarias por te aperceber da minha presença. Os teus olhos sorriram-me de longe. Passaste o braço pelo rosto, deixando inevitaveis traços de tinta enquanto caminhavas para mim e eu, que ja conhecia o sabor da tua boca senti a pele vibrar.
- Estas lindo, assim cheio de cores!
- Estou muito inspirado hoje... pensei que talvez me pudesses deixar pintar.....te! – com a ponta do dedo azul deixaste-me tinta nos labios, no queixo, no pescoço... e paraste na covinha onde paras sempre. E a minha blusa branca encheu-se de cores para te ver colorir-me a pele, devagarinho, centimetro apos centimetro, com uma calma desmedida, com a paciencia dos artistas que amam a obra feita. A tinta fresca das tuas maos era fria em contraste com a pele quente e nessa tarde de chuva, o inverno pareceu-me verao...
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