UN AMORE DA FAVOLA

Senti o mundo balançar-me debaixo dos pes quando foste a primeira pessoa que vi ao entrar na sala enorme. Tu, a tua mulher loura e o teu filho de olhar azul igual ao teu. Eu, o meu marido moreno e os meus dois filhos endiabrados. Dez anos depois da ultima vez que dissemos alguma coisa um ao outro, dez anos depois daquilo que foi tacitamente um fim para uma historia estranha e conturbada. O chao foge-me e a ti, o ceu parece cair-te sobre a cabeça. Enquanto o meu filho me puxa insistentemente, perguntando-me qualquer coisa que nao consigo recordar, estou imovel, sem sentidos e a unica vontade que tenho e’ de desaparecer.
Devem ter passado pelo menos duas horas desde que ocupamos os mesmos metros quadrados. Levanto-me, sirvo-me de uma taça de champanhe que nao aprecio e apoio as maos na bancada procurando nao cair quando te sinto atras de mim.
- Tive vontade de falar contigo desde que entraste! – respiras fundo. – Estive a olhar para a tua filha e... e e’ igual a ti, igual como eu sempre imaginei... igual como quando eu imaginava que ela seria minha filha...
- Ouve... – interrompeste-me e discretamente passaste a mao pela minha.
- Shhh... so queria ter a certeza de que sabes...
- O que?
- Que nunca amarei ninguem como te amo a ti!
E desapareceste.